sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Os encontros dos expatriados


Se alguém souber o paradeiro do senhor acima, por favor informe.
Diz chamar-se Nuno, tão convictamente que até o escreveu na lapela. Foi visto pela última vez em Tóquio, num evento de expatriados. Nesse evento, estava vestido como um pobrezinho, quando comparado com os Excelentissimos Senhores Doutoures e Engenheiros que por lá se encontravam!
(esta última parte é treta... usar títulos académicos como Doutour ou Engenheiro, tal como se fosse o primeiro nome, só é moda em países sub-desenvolvidos... tipo Portugal, estão a ver?)

Bem, passo a descrever a situação documentada... são assim os encontros de grupos de expatriados em Tóquio (e arriscaria-me a dizer que no resto do mundo). Vai-se "às cegas", com um nervoso miudinho tipo primeiro encontro... ou primeiro dia de escola. Sabe-se que se vai encontrar uma data de desconhecidos... e, caso passemos a ser frequentadores habituais, alguns até poderão tornar-se amigos enquanto que outros ficarão sempre como conhecidos... ou desconhecidos... como em todas as situações na vida social de cada um.

A maioria dos diálogos nestes encontros resume-se a:
Olá? Como estás? De onde és? O que fazes? Tens o teu "business card"? Toma lá o meu.

Em 50% dos casos alguém responde:
Olá. Estou bem. Sou Inglês. Sou consultor financeiro... eu sei, agora não é boa altura para ser consultor financeiro (estes gajos têm sempre a mesma piada, incrivel!). Toma lá o meu "business card"... durante as próximas semanas não te vou parar de telefonar, a chatear, sobre as tuas aplicações e investimentos financeiros!

Bem, a mim isto só me lembra algo tipo "Speed Dating"... nunca fui, mas já vi em filmes... calculo que seja parecido!

Estes encontros são promovidos por uma rede social (mais uma na Internet!) chamada "InterNations", da qual faço parte (não é para estranhar... estou mais ou menos em todas!)
No entanto, a vantagem desta rede é que liga o mundo virtual ao real, dando uma cara às pessoas, pois organizam eventos nos diferente países e cidades onde existem comunidades expatriadas relevantes.

Já fui a dois destes encontros... Penso que não irei a mais nenhum... tipicamente as pessoas que se encontram por lá são homens, Americanos, Ingleses ou Australianos, solteiros, mais velhos, e um bocado "fala-barato".
Embora, para ser justo e verdadeiro, já conheci pessoas impecáveis com as quais agora saímos algumas vezes. Normalmente, tento sempre "arrastar" pessoas que já conheço... sempre é uma segurança. E já dizia o meu Avó: O seguro morreu de velho!

Como curiosidade: Muita gente já me questionou sobre o conceito de expatriado (pois estou sempre a referir isso). De facto, e consultando o dicionário, não parece uma situação/estado nada agradável para se estar. Senão vejamos o Dicionário da Língua Portuguesa On-Line:
expatriado (adj. e s. m): o que foi condenado a degredo; desterrado; proscrito; aquele que se expatriou

Na giria empresarial, pelo menos nas multinacionais, refere-se aos colaboradores (nome moderno para empregados/funcionários) que se deslocam para outros países em "comissão de serviço" (nunca gostei deste nome... parece uma nomenclatura militar). Por isso, meus amigos, conhecidos e desconhecidos, não se preocupem... penso que ainda não estou condenado ao degredo!

6 comentários:

NanBanJin disse...

Meu Caro Nuno:
Realmente parece-me que comungamos do mesmo sentimento no que toca a esses famosos "expats" que aparecem por esse Japão fora.

Como deves calcular, aqui em Fukuoka, estou bem mais isolado do que vós aí por Tokyo, e sobremaneira destituído de acesso a comunidades como essa da InterNations - certamente haverá por cá qualquer coisa de parecido, mas eu já tinha uma pontinha de instinto a dizer-me que os encontros nesse tipo de "foruns" são assim mesmo como tu tão bem descreveste (o estilo "speeddating", a conversita da treta do costume - sempre em Inglês, claro - o olhar frio e os sorrisos amarelos do costume, desu ne?

Eu, da minha parte, decididamente, cada vez mais rejeito esse termo retorcido, e algo snob, "expatriado" e prefiro o palavrão d'antigamente "Imigrante" - assim mesmo com I grande, porque é uma palavra que cada dia que passa me inspira mais respeito e mais me serve de referência, porque afinal de contas viemos para aqui ganhar as nossas vidas, somos de fora, custa-nos adaptar-nos a tanta coisa d'aqui, e por muito que gostemos de aqui estar, e até há dias em que sentimos ser olhados de lado por alguém ali atrás no supermercado ou na rua.

E o facto de não sermos oriundos de um país de Terceiro Mundo, de não estarmos cá para mandar dinheiro à mãe e mais dez irmãos que lá ficaram na terra, termos uma educação ocidental e esmerada, frequência do ensino superior, grão académico até, vivermos relativamente bem e recolhermos respeito e consideração da maioria que nos rodeia, não nos torna, a meu ver, priveligiados de excepção.

E é precisamente por isso que, para mim, é sempre tanto mais reconfortante encontrar alguém do nosso país, com quem podemos conversar na nossa própria língua, bem melhor que um tanso qualquer de algures do império britânico ou d'outras pátrias "mais respeitáveis" que preferem, para si, o pomposo termo "expat" e a pose de quem faz um grande frete em estar aqui.

Anónimo disse...

O encontro dos expatriados revela o
Ponto de Encontro de culturas e civilizões que é o que se pretende com este tipo de eventos, com a mais valia das pesoas serem de diversas nacionalidades mas trabalharem para um objectivo comum, neste caso o sucesso da Ericsson.Não vivendo nos respectivos países de origem encontram-se nestas iniciativas em que convivem,conhecem-se novas pessoas e mentalidades, fazem-se novos contactos e até,por vezes grandes amizades. Contrastes e "modus vivendi" sempre os houve e achei piada à fotogtafia do blog.Tu mal vestido para o evento e o teu amigo impecável;tu com
um sorriso de orelha a orelha,o teu amigo sério, calmo e sereno. Deves ser o expatriado mais feliz e contente do evento em contrapartida com outros sisudos, sózinhos e sentados num canto.Como vês o contraste e a diversidade é que faz a diferença!!
Bjs

Xana disse...

Olá, encontrei o teu blog enquanto pesquisava sobre as sinalizações para os cegos nas linhas de comboio e reparei que tens uma foto das ditas linhas amarelas mas com relevos, tenho vindo a notar que as linhas estão nas estações mas os relevos não, sabes se há alguma tecnologia nova por trás desse sistema ou trata-se de pura negligência ? Achei o teu blog muito interessante, se souberes a resposta para a minha questão diz-me, ok? Um abraço

Nuno-san disse...

Ola Xana,
Bem-vinda ao meu blog ;-)
Nao sei se percebi bem a questao...
Aqui no Japao, algo que nao existe e' negligencia. Em todas as ruas, e nao so' nas estacoes, existem estas linhas amarelas (obviamente poderiam ser de qualquer cor) para sinalizarem o caminho aos cegos. TODAS estas linhas tem relevos, sendo o tipo de relevo diferente conforme a utilidade da linha (intersecoes, fim de linha, etc...). Tipo "Braile" para os pes :-)
Se te estas a referir a Portugal, e 'as poucas condicoes que existem para cegos, entao ja acredito em negligencia, ou no minimo coisas mal pensadas e pior executadas. Nao penso tratar-se de tecnologia de ponta, tipo chips de radio-frequencia que transmitiriam os sinais/orientacoes para as bengalas dos cegos ;-)

Luis Prata disse...

Assim de repente, a gravata parece-me curta :)

Nuno-san disse...

NanBanJin,
Concordo na generalidade.
De facto somos os novos Imigrantes... ou 2a vaga de Imigrantes. As nossas motivacoes, e qualificacoes, sao muito diferentes de quem teve que sair (e continua a sair) por nao ter outra alternativa.
Relativamente ao termo "expatriado", considero-me um deles... mal ou bem, e' o termo que as empresas multinacionais utilizam para classificar quem esta fora do seu pais. Claro que ha "expacts" e "expacts", alguns bem insuportaveis, que nao fazem ca falta nenhuma!
Quando vieres a Toquio, avisa ;-)

IBR,
Nem mais... mas de facto exagerei na mal vestimenta... este foi numa Sabado, ao gim da tarde... pensei ser mais descontraido ;-)

Pratas,
Sabes que aqui as maquinas de lavar roupa lavam a frio... para poupar energia. O maximo sao 40 graus, nas maquinas mais xpto. Vai dai, deve-lhe ter estragado a gravata ;-)